"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

sexta-feira, 27 de julho de 2007

continuação de: De lagarta a borboleta

Voltei a voar...
Passeiam meus olhos sobre o mundo, que hoje é de inverno e frio...
Minha cria encolhe-se entre cobertor e sofá, pé quebrado, férias de ficar em casa.
Minha mãe não descansa, dia e noite, bolos, café, amor que nunca mais se acaba...
Meu pai que reclama, “ai como dói”... Meu pai que sonha, que fala muito, e que é meu exercício de ser paciente...
Meu gato que dorme... Dorme... Dorme... E que só acorda para miar seu cio que nunca acaba rs... Barulho de vontade, som de ser só e querer não ser...
O mundo hoje esta com frio, meus pequenos ossos congelam, uso luvas, blusas, muitas mesmo...
Para voar no inverno é preciso cuidado, o gelo das manhãs pesa sobre minhas asas, e o cair da tarde parece entristecer os homens... A mortalha do amor me traiu, não me aquece, até me sufoca nas tardes em que teimo em voar em busca dos olhos de verde amado...
Pára-choque de caminhão, poesia de beira de estrada, marmita de baixo do braço, meias furadas de tanto lavar, ai a cabeça que de tanto pensar dói desatenta de ser apenas eu mesma, o mundo enlouquece no inverno em mim, e se fico sozinha esses pensamentos ficam me perguntando coisas e eu fico conversando comigo no trem, na rua, mil coisas em que pensar e eu sou só uma... Só uma... Tão confusa eu sou, mas agora descobri que posso mais, posso ser amada verdadeiramente, posso voar mais alto, posso gastar todo dinheiro que eu quero, posso até ser mercenária se eu quiser, eu posso ser boa e ser má de vez em quando, eu posso fazer silencio e gritar se me doer, eu posso dançar na rua na minha casa (a casa do meu espírito é meu corpo!), eu posso acreditar , posso ser extremamente ingênua, eu posso colorir com lápis de cor meu mundo de sonhos e fadas, e eu posso fotografar tudo em preto e branco e partir da idéia de que tudo é muito simples , e que há sempre algo mais perfeito do que a cor, eu descobri que posso voar entre duas paredes muito próximas e não me ferir ou posso chorar de sangue e dor ao fincar os pés no chão de terra e cactos, eu posso amar e não amar, eu posso correr posso ser o que eu quiser, posso até tentar escrever o que penso e não ser coerente, eu posso ser incoerente e gostar disso!
Ai!
Voltei a voar, como antes, como sempre, um vôo doce sobre todas as coisas nas quais eu acredito, eu voltei pra mim...
Ai que delicia voar assim...


27/07/07

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