"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

domingo, 16 de outubro de 2011



Um dia eu abri minhas janelas...era só chuva que caia
Uma chuva fina, silenciosa, que calou na terra junto comigo
Dentro de mim um anjo dormiu
E eu disse pra ele:
“dorme anjo querido, meu filho, meu amor, meu amigo mais perfeito...”
As coisas na sua finitude, o tempo que é tão gatuno
Como enganar tudo isso e fazer você ficar. Eu não sei.
Eu nunca soube todas as respostas
Um pouco lesa como você me dizia
Como deixar que você vá assim
Sem abraço...
Posto minhas mãos cansadas em oração, mas a chuva que há em mim
Não deixa que eu reze
O mar deságua
Meu corpo dói
Obrigada meu anjo, por todas as vezes que dividiu comigo seu tempo tão precioso
Obrigada por ter cuidado de mim quando eu precisei
Obrigada por ter sido sempre tão discreto quando eu era totalmente indiscreta com você
Dorme meu anjo querido
Vou rezar por todos nós
Existem outras coisas pra fazer e você foi cuidar de tudo como sempre
Em sua última reunião vieram quase todos os que te amavam
Você sempre foi bom em reunir pessoas
Seus amigos queridos de Belém trouxeram carinho e amor
Os daqui também
Seu alunos, sua família, sua mãe tão pequena e seu pai tão calado...
Há aqueles que não puderam vir pra reunião, tenho certeza que você ficou bravo,
Sempre brigou comigo quando eu não podia vir...
Aqui todos te amam muito e torcem pra que você fique bem.
Hoje meu filho, que não tem nem dois anos me disse: “não fica tiste mamãe.”
Vou tentar não ficar.
Dorme meu anjo, e obrigada por ter estado conosco.
Que Deus esteja contigo.

Xica lima
16/10/2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

1 capítulo da ida a Belém. Diário de bordo de Xica e Celina.



Chegamos em Belém as 23:00hr, a pessoa que viria nos receber não apareceu. Não tínhamos endereço nem telefone de alguém a quem pudéssemos recorrer, pensei: "Ferrou!”.
Fomos até um taxista, destes que ficam no aeroporto mesmo, e falei:
- O senhor pode nos indicar uma pousada que seja de confiança, para passarmos a noite, porque não conhecemos nada em Belém e acho que só amanhã cedo vamos encontrar a pessoa que viria nos receber.
Ele disse:
- Olha hoje é véspera de Círio, os hotéis e pousadas estão todos lotados, mas talvez eu consiga algo, vamos ver.
Pensei comigo: "Graças a Deus!"
Chegamos em frente a uma casa com grades na porta, imaginei que devia ser a casa do taxista e que ele iria pegar algo. Ele gritou para alguém lá dentro: "TEM VAGA?”.
Tinha.
O rapaz que nos atendeu, estava dormindo, e continuou. Quando falava coçava a cabeça, bocejava. Conseguiu um quarto pra nós e disse que tínhamos muita sorte. Até agora não entendi a noção de sorte dele.
Solícito e com sono ainda, nos levou a um quarto no andar de cima, olhamos, olhamos de novo... Minha amiga fez perguntas básicas. Eu olhei de novo. Senti um cheiro estranho que torci para que não fosse no quarto. Quem sabe era no corredor! Não era.
Descobrimos que o quarto não tinha janela, ou melhor, tinha uma que se abria para o corredor da pousada. “My God!".
O que mais podíamos querer? Afinal era sorte!
O quarto tinha duas camas, uma TV que estava muda, e que para emitir algum som tinha que ser desligada e ligada novamente. Coitada, devia estar cansada como eu, que também estava muda.
Decidimos procurar ajuda e pedimos para a santa internet funcionar. Mandei um e-mail para uma mulher que eu conhecia apenas de uma rede social, não nos conhecíamos pessoalmente, e ela era nossa única chance de ficarmos mais tranqüilas, seu nome era bem sugestivo: Socorro.
Escrevi pedindo ajuda e nos preparamos pra dormir.
Surpresa! Ao entrar no banheiro descobri o foco do aroma que invadia o quarto. Parecia muito abstrato, e seria uma instalação não fosse o local onde se encontrava. Pensei comigo: “Vou por uma placa e abrir pra visitação”. Molhei a escova de dente e falei pra Celina:
- O ambiente está interditado pela defesa civil.
Peguei um perfume da bolsa e esguichei no ar.
Dormimos com a porta do banheiro bem fechada.
Não. Nós não tomamos banho, era impossível.
Acordei com a Celina gritando:
- Xica! Socorro!
Pensei: “Fudeu, fomos assaltadas”.
Não fomos. Era a Socorro no telefone dizendo que podíamos ficar na casa dela.
UFA! Enfim Sorte!
Encontramos Socorro, carinho e calor, muito calor em Belém!
Casa da Socorro, a surpresa e o encantamento que valeu toda a viagem.

Xica Lima
13/10/2011