"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

quinta-feira, 17 de abril de 2014




Essa é uma história de um tempo em que o “onde” ainda não era lugar...

É sobre uma mulher, poetisa, cozinheira, artista, bordadeira, fazedora de sonhos...
Um dia em que o sol ardia num alaranjado imenso, ela acordou com a estranha sensação de ter esquecido algo, e começou a procurar dentro de casa... ela não sabia o que era...
De repente! Mexendo numa gaveta onde estavam os guardados mais antigos, encontrou uma agulha. Esta agulha tinha sido da sua avó, que tinha ganhado da sua bisavó.
Veio nela uma ideia:
“Vamos ver o que esta agulha me conta”
A sensação foi diminuindo enquanto ela se iluminava de azul.
Pegou algumas linhas e lãs, sentou-se de frente às begônias e iniciou seu balé.
Agulha e linhas quando se encontraram, como velhos amigos se abraçaram, e foi surgindo algo que ainda não tinha nome...
O tempo que passava por ali parou pra ver as cores que se emaranhavam... Ficou ali sentindo o perfume das flores e testemunhando o encantamento da mulher.
Era já o fim do dia quando ela percebeu o que tinha sobre os joelhos: um enorme tapete onde as texturas saltavam. As cores tinham virado coisas, e até o tempo tinha deixado um recado: devido à interferência do tempo, alguns lugares no tapete estavam gastos, na iminência da presença do que se foi...
E a mulher sem a sensação do esquecimento, pode dormir um sono solto...
Exausta de cor e tempo.

Xica Lima
17/04/2014