"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Beba um pouco da minha coragem
Seja voraz...

Xica lima

Portas rangem dentro de mim
Lá fora o jardim bebe outono
Formigas trafegam e se cumprimentam.

Eu me visto de vida como quem vai a uma festa!

Os sacis brincam com cachimbo e negrume
E de alegria infantil
Eu te conto um conto.

De encanto em encanto
Outro encontro.

Pronto!

Xica Lima

22/01/2008
A sobriedade dos teus pêlos
Feriu a gravidade da manhã
Bebi teus olhos
Como quem bebe café
E devagarzinho
O sonho e o real escorreram
entre eu e você.

Xica Lima
22/01/2008
Eu gosto
De bala de goma
Amor de manhã.
Andar pelas ruas apenas olhando
Criando com meus olhos.

Eu gosto do céu, de algodão e luz.
Gosto de beijo no céu da boca.
Gosto do amor na boca do estômago (assustado!).

Gosto do susto do novo!

E do novo que me assalta sempre que me reinvento.

Eu gosto...
Panelinhas de barro, de quando eu ainda nem era mulher...

Ferver nas manhãs...

Eu gosto.

Xica Lima
22/01/2008

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Tenho a fragilidade do tempo que se quebra.
A força das tempestades quando vem balouçar o mundo...

Farejo no teu corpo a lava que empedreceu todas as ilhas
Queimou meu corpo de brasa
Desfez algumas coisas prontas...

Sim.
Há um beijo guardado no fundo de todos os poços
Há música esperando bailarinos.

Feras soltas.

A vida tem esse mistério: nada é estático.

Rasgarei teus livros
Tuas palavras prontas
Frases tão exatas.

Náusea.

Quando eu te morder vai saber que eu sou real.
Enquanto isso,
Idealize suas respostas e perguntas
E sangre na minha boca de lua e grito...

Eu não estou nos livros.
Nem tenho todas as respostas.

Sou carne
Febre
Emoção.

Xica Lima
17/01/2008




segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Neste instante o silêncio me completa.
Há um transbordamento...
Eu sou o jardim, mas ele não me é.

As flores reclamam
Tudo são reclamações de flores...

(Agora sim, estou pensando e deixo de transbordar.)

Sinto o palpitar da grama no meu umbigo
Formigas bebem orvalho
Sim
Há um transbordamento...
Me sinto lagarto
Fico verde como o jardim
Eu “como” o jardim
Bebo o néctar das margaridas
Viro margarida.
Há esse mudar
Ir
Vir
Coisa boa...

Ouço o silêncio
E ele me ouve.

Apenas isso.

Xica Lima
06/01/2008

O jardim está de barro, e o cheiro desse fermenta dentro de mim... Volto ao tempo em que também fui de barro, e fechando os olhos deixo entrever a Terra e a água de onde nasci.

Xica Lima
06/01/2008

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Toda arma que o homem usa em seu favor, seja ela bélica, cientifica, política, mesmo que acredite ser por uma causa justa, se não de maneira integral, por uma fração de segundos faz deste homem um tirano.
A sabedoria está em, conhecendo as armas de que dispõe não usá-las em favor próprio, por orgulho ou demonstração de poder.
Quanto mais fundo estudamos e conhecemos algo, maior este torna-se dentro de nós, e isso nos torna semi-deuses deste conhecimento, e aguça nossa vaidade. A soberba não deve ser aliada da inteligência, e esta não significa sabedoria.
Quando nos tornamos senhores de idéias, muitas vezes não abrimos campo para novas questões, ou mesmo idéias que diferem das nossas, e nos tornamos grandes rolos compressores, as outras pessoas passam a ser insignificantes, e nosso individualismo agigantado nos afasta cada vez mais da essência do ser humano.
Se todas as questões em nós tiverem respostas, então seguimos como mortos.
Continuemos questionando.
Todo homem é um tirano quando empunha uma arma.
E esta arma pode ter a forma de aço, retórica, química...
Sejamos éticos, íntegros.
A sabedoria deve estar em se sabendo tanto, estarmos dispostos a aprender, e aprendendo mais, ensinar melhor aqueles que ainda encontram-se na escuridão da ignorância.
O melhor é quando o todo está em sintonia.
A guerra é filha dos tiranos.
Qual é sua arma?

Sejamos sábios.
Éticos.
Humanos.


Xica Lima
02/01/2008
Houve uma explosão.
Estilhaços voaram para todos os lados, algumas mulheres cobriram os rostos, tentando evitar o horror da cena, depois um silêncio de eternidade, e a vaga sensação de paz...
Não havia mais corpo.
Só retalhos, sangue coagulando silêncio.
O coração que durante muitos anos fora acusado de amar demais, finalmente adormecera em mil pedaços, ela tinha espalhado no ar toda tormenta e todo amor de que fora mensageira.
Sapatos; ai que bom, não precisaria mais deles.
Uma criança brincou com os restos da sua roupa colorida e a mãe puxou-a pelo braço aos gritos:
- Num mexe nisso não que dá azar!
Será?!
Roupa colorida, coloridos cabelos.
Uma vida em que ela insistiu em ser de arco-íris.
De repente aquele dia cinza, uma dor maior do que seu pequeno ser suportara... decidiu que era o último dia cinza.
Aí a explosão, choro convulsivo, paz dos dias cinzentos... ela tão colorida, agora só cinzas.
Não queria o terror, mas gostou do som, do vermelho, e da força com que destemida deixava enfim o palco.
Façamos silêncio.

Xica Lima
02/01/2008

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

As perguntas tomam conta de mim novamente
Porquês que não me deixam dormir...
A vida fere.

Nada é o que parece ser...
Eu quero tanto e com tanta intensidade que me fogem as palavras, os atos saem tortos, as mãos deixam cair objetos... Sou tola o bastante pra amar... E não sou tola o bastante pra aceitar pedaços, metades...

Eu ando em carrocéis de fogo
Vez ou outra me queimo
Vez ou outra imagino um vento alegre...

Sou liquida
Há épocas em que transbordo.

Tem razão:
Fez com que me sinta estúpida.

Sim.
Estou no meio de uma tempestade, mas depois de grandes tempestades o céu fica lindo e até pode aparecer um arco-íris.

Não.
Você não me avisou que seria assim, mesmo que o tivesse feito, eu vivo as coisas por mim não pelo que me disseram que seria.

Realmente.
Eu sou louca de pedra.

Claro.



Xica Lima
02/01/2008