"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Alucinações...






Um menino invadiu o espelho
Todas as portas se abriram
O chão sorriu.

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As estranhezas de que sou feita servem ao papel
A vida toda eu quis voar, ser dos pássaros, das nuvens...
Mas as bicicletas viraram gente,
Só o cotovelo da escada é que me salva
E as caixas de fósforos do mundo todo se acendem pra me ver chegar...



Cravei as unhas no sonho dessa noite,
Quando acordei tudo era só luz.


Xica lima
22/12/2014



 
Se eu soubesse escrever eu te fazia um poema
Mas eu sou cozinheira, doceira, inventadeira de coisas
Então só posso te inventar um estado doce de alegria profunda
Aí eu reinvento as manhãs e te levo comigo
Estrada a fora... 
                                          
pra viajar.

Xica Lima 22/12/2014

sábado, 13 de setembro de 2014





A fadinha nasceu num lugar muito distante,
Seus pés não tocavam o chão como é comum que se faça
Ela era do ar que a recebia...
A fadinha usava uma franja que brincava em seus olhos
E quando sorria todo jardim se iluminava de sonho.
A fadinha, o jardim e o sonho...


Xica Lima
13/09/2014

domingo, 3 de agosto de 2014





É preciso horas a fio de nada fazer...
O tempo contado é tempo perdido
Esse em que se perde é que é tempo vivido...
A deriva de que falam os teóricos é a nossa única chance de se perder
Não se achar
Não se acanhar diante do novo...
Delicia o gosto da chuva que vem a noite bater nas janelas
E o som líquido que invade minha alma de anciã...
Ah vida!
Que bom que estamos aqui.

Xica Lima

03/08/2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014



O tempo folha que cai
O tempo vento
Aceno
Passo rápido...
O tempo saudade
O tempo soluço
Abraço festeiro de quem vem de longe
O tempo fogo que queima
Gosto de barro na chuva que cai
Cabelos brancos
Suave o tempo que passa despercebido de si mesmo
O tempo que nos engole
Que não tem dó
Que leva sei la pra onde, as pessoas que a gente ama...
Pra onde vão os espíritos que eu amo tanto?
Pra onde vai meu gato que já não sabe miar sua dor renal
Que mal se levanta pra me ver chegar
Esse que escolhemos pra irmão... Onde irá...
Ah tempo danado, injusto ...
Tom Zé em sua cobertinha faz silêncio
O rei dos gatos agora só quer sossego...

Tempo...

Xica Lima
18/07/2014.

quarta-feira, 21 de maio de 2014



Em um ninho gigante as pessoas nascem...
A fábula humana inicia seu curso, sem pressa.
As máquinas extintas causam o vazio necessário à náusea.
Assim...
Dentro deste ninho voltamos a ser do ar.

Apenas nascemos, e já sabemos o básico, o necessário:
Voar!

Xica Lima

21/05/2014

sexta-feira, 2 de maio de 2014




A cadeira não vai mais pensar sobre o mundo...
De hoje em diante, ela vai apenas sorrir.

Xica Lima
30/04/2014

quinta-feira, 17 de abril de 2014




Essa é uma história de um tempo em que o “onde” ainda não era lugar...

É sobre uma mulher, poetisa, cozinheira, artista, bordadeira, fazedora de sonhos...
Um dia em que o sol ardia num alaranjado imenso, ela acordou com a estranha sensação de ter esquecido algo, e começou a procurar dentro de casa... ela não sabia o que era...
De repente! Mexendo numa gaveta onde estavam os guardados mais antigos, encontrou uma agulha. Esta agulha tinha sido da sua avó, que tinha ganhado da sua bisavó.
Veio nela uma ideia:
“Vamos ver o que esta agulha me conta”
A sensação foi diminuindo enquanto ela se iluminava de azul.
Pegou algumas linhas e lãs, sentou-se de frente às begônias e iniciou seu balé.
Agulha e linhas quando se encontraram, como velhos amigos se abraçaram, e foi surgindo algo que ainda não tinha nome...
O tempo que passava por ali parou pra ver as cores que se emaranhavam... Ficou ali sentindo o perfume das flores e testemunhando o encantamento da mulher.
Era já o fim do dia quando ela percebeu o que tinha sobre os joelhos: um enorme tapete onde as texturas saltavam. As cores tinham virado coisas, e até o tempo tinha deixado um recado: devido à interferência do tempo, alguns lugares no tapete estavam gastos, na iminência da presença do que se foi...
E a mulher sem a sensação do esquecimento, pode dormir um sono solto...
Exausta de cor e tempo.

Xica Lima
17/04/2014



sábado, 15 de fevereiro de 2014



Mesmo a falta de sentido me anima
Laranjas na China que eu desejo colher
Colher de pau no doce de melancia de mãe...
Sereias passeiam no meio da tarde despercebidas de si mesmas
Um Chaplin inventa mágicas, é mágico estar...
Meu gato dorme, minha mãe cozinha,
Na TV o mundo que inventam
E eu quero as laranjas da China...
Celular, escova, chinelo, um dia esqueço...
Davi enfrenta outros gigantes
Prostitutas navegam
O comércio não para, a fome não para,
As formigas...
Eu amo formigas, desde criança... ficava imaginando onde elas iam
Até hoje as formigas
E as laranjas...

Xica Lima

15/02/2014

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014





Há muito tempo atrás, num lugar que não era onde...
Lembro da casa com a cabra correndo dentro do salão, uma senhora na porta em sua cadeira de balanço;
Lembro o véi “Lixandre” que vinha com seus confeitos adoçar minha pequena vida em Serra Talhada.
Depois a viagem, eu de roupa de São Francisco marrom, dois anos... Morar em São Paulo.
Lembro do quintal dividido, o poço no meio do quintal, aprender a andar de bicicleta... quantas quedas, aprendi.
Escola, sempre fui a queridinhas das professoras, Anako minha primeira mestra, depois Ioshi, Hiromi, meu contato primeiro com a leitura se deu através deste contato oriental tão estranho pra mim e que me acompanhou sempre com muito carinho.
E o amor que me assaltou aos 8 anos de idade. Mas criança ama? Posso dizer que sim, depois de anos reencontrei e casei com este primeiro amor.
Na adolescência rock and roll, Fofinho Rock Club, Led Slay, Heavy Metal, Paraíso do Rock, a música invadiu minha vida, acampamentos em São Bento do Sapucaí, Casa Grande, Mineração... A vida era incrível!!
E os filhos: dois...
Uma menina com traços orientais, um menino rápido demais pra que eu acompanhe... Meus dois grandes amores.
Família, faculdade, amigos, fotografia, música, arte, tanto a agradecer...
Grata sempre!

Xica Lima

05/02/2014