"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Eu sinto a nostalgia de quando eu não era
O surdo som sanguíneo envolvendo meu corpo
Sinto a febre de viver profundamente todas as minhas inquietações...

Sou tangente madrugada
Estou com o gosto do café mais doce bebido
Sinto o sabor da caneca de louça antiga
Velha de tanto ser tocada

Eu...
O café...

Em noites divididas.


Xica lima
21/12/2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Minha pluma devagar tece outra vez esse caminho em branco
Falando das coisas de todos os dias
Trazendo de volta minhas fábulas preferidas
Eu quero um gole da tua palavra mais doce
E teu ácido sorriso misturado ao meu vermelho batom
Deitada no meio do dia entre as tuas pernas
Esquecer de saber de tudo
E ser apenas eu...

Xica Lima
06/12/2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Quantos contos enquanto eu canto...
Quanto vazio.
O frio é um plágio da morte
é sorte saber.

Xica Lima
17/11/2011




Na janela do ônibus eu aguço minha capacidade de encantamento.
Encontro belezas pequeninas...
E esse exercício de encantar-se no mundo, e com ele,
é o que dá ao espírito a liberdade sonhada.


Meu corpo é só uma testemunha.

Xica Lima
16/11/2011

domingo, 16 de outubro de 2011



Um dia eu abri minhas janelas...era só chuva que caia
Uma chuva fina, silenciosa, que calou na terra junto comigo
Dentro de mim um anjo dormiu
E eu disse pra ele:
“dorme anjo querido, meu filho, meu amor, meu amigo mais perfeito...”
As coisas na sua finitude, o tempo que é tão gatuno
Como enganar tudo isso e fazer você ficar. Eu não sei.
Eu nunca soube todas as respostas
Um pouco lesa como você me dizia
Como deixar que você vá assim
Sem abraço...
Posto minhas mãos cansadas em oração, mas a chuva que há em mim
Não deixa que eu reze
O mar deságua
Meu corpo dói
Obrigada meu anjo, por todas as vezes que dividiu comigo seu tempo tão precioso
Obrigada por ter cuidado de mim quando eu precisei
Obrigada por ter sido sempre tão discreto quando eu era totalmente indiscreta com você
Dorme meu anjo querido
Vou rezar por todos nós
Existem outras coisas pra fazer e você foi cuidar de tudo como sempre
Em sua última reunião vieram quase todos os que te amavam
Você sempre foi bom em reunir pessoas
Seus amigos queridos de Belém trouxeram carinho e amor
Os daqui também
Seu alunos, sua família, sua mãe tão pequena e seu pai tão calado...
Há aqueles que não puderam vir pra reunião, tenho certeza que você ficou bravo,
Sempre brigou comigo quando eu não podia vir...
Aqui todos te amam muito e torcem pra que você fique bem.
Hoje meu filho, que não tem nem dois anos me disse: “não fica tiste mamãe.”
Vou tentar não ficar.
Dorme meu anjo, e obrigada por ter estado conosco.
Que Deus esteja contigo.

Xica lima
16/10/2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

1 capítulo da ida a Belém. Diário de bordo de Xica e Celina.



Chegamos em Belém as 23:00hr, a pessoa que viria nos receber não apareceu. Não tínhamos endereço nem telefone de alguém a quem pudéssemos recorrer, pensei: "Ferrou!”.
Fomos até um taxista, destes que ficam no aeroporto mesmo, e falei:
- O senhor pode nos indicar uma pousada que seja de confiança, para passarmos a noite, porque não conhecemos nada em Belém e acho que só amanhã cedo vamos encontrar a pessoa que viria nos receber.
Ele disse:
- Olha hoje é véspera de Círio, os hotéis e pousadas estão todos lotados, mas talvez eu consiga algo, vamos ver.
Pensei comigo: "Graças a Deus!"
Chegamos em frente a uma casa com grades na porta, imaginei que devia ser a casa do taxista e que ele iria pegar algo. Ele gritou para alguém lá dentro: "TEM VAGA?”.
Tinha.
O rapaz que nos atendeu, estava dormindo, e continuou. Quando falava coçava a cabeça, bocejava. Conseguiu um quarto pra nós e disse que tínhamos muita sorte. Até agora não entendi a noção de sorte dele.
Solícito e com sono ainda, nos levou a um quarto no andar de cima, olhamos, olhamos de novo... Minha amiga fez perguntas básicas. Eu olhei de novo. Senti um cheiro estranho que torci para que não fosse no quarto. Quem sabe era no corredor! Não era.
Descobrimos que o quarto não tinha janela, ou melhor, tinha uma que se abria para o corredor da pousada. “My God!".
O que mais podíamos querer? Afinal era sorte!
O quarto tinha duas camas, uma TV que estava muda, e que para emitir algum som tinha que ser desligada e ligada novamente. Coitada, devia estar cansada como eu, que também estava muda.
Decidimos procurar ajuda e pedimos para a santa internet funcionar. Mandei um e-mail para uma mulher que eu conhecia apenas de uma rede social, não nos conhecíamos pessoalmente, e ela era nossa única chance de ficarmos mais tranqüilas, seu nome era bem sugestivo: Socorro.
Escrevi pedindo ajuda e nos preparamos pra dormir.
Surpresa! Ao entrar no banheiro descobri o foco do aroma que invadia o quarto. Parecia muito abstrato, e seria uma instalação não fosse o local onde se encontrava. Pensei comigo: “Vou por uma placa e abrir pra visitação”. Molhei a escova de dente e falei pra Celina:
- O ambiente está interditado pela defesa civil.
Peguei um perfume da bolsa e esguichei no ar.
Dormimos com a porta do banheiro bem fechada.
Não. Nós não tomamos banho, era impossível.
Acordei com a Celina gritando:
- Xica! Socorro!
Pensei: “Fudeu, fomos assaltadas”.
Não fomos. Era a Socorro no telefone dizendo que podíamos ficar na casa dela.
UFA! Enfim Sorte!
Encontramos Socorro, carinho e calor, muito calor em Belém!
Casa da Socorro, a surpresa e o encantamento que valeu toda a viagem.

Xica Lima
13/10/2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011


Beleza é uma coisa que pousa leve dentro de nós
Bate suas asas de borboleta
Faz cócegas e desaparece
Deixando a certeza de que o mundo é onde queremos estar
E que há sempre uma surpresa nos esperando.

Xica Lima
28/09/2011

sábado, 24 de setembro de 2011

Ainda hoje um sol esbravejou qualquer coisa em meus ouvidos...
A língua latina lambeu meu corpo de ferida nordestina
Meu destino é a terra!
Eu encerro meu tempo em finais sempre felizes
Que de tristeza a chuva mesma toma conta do mundo
Ainda hoje um amigo veio de longe
De tempos onde eu ainda nem era
Ouvimos boa música,
Conversas de um quase abraço.
Lá se vai o amigo pra casa onde guarda seus tempos...
Eu fico aqui num chão de brincar com meninos.
Um gato passeia seu corpo lento.
A vida é arte
Arde sempre
Eu feri de unhas a neutralidade da manhã
A primavera acendeu suas cores
Seus cheiros, e certa delicadeza menina...
Sempre é o hoje que eu invento
Hoje é o que sempre vou amar
Frases,
Frevos,
Fervores...

A vida é arte!

Xica Lima
24/09/2011

domingo, 14 de agosto de 2011


Tenho lembranças de um tempo lúdico onde eu brincava de fazer panelinha de barro, nós comíamos trevos da sorte, brincávamos com tatu bola, o jardim da minha casa era o mundo.
Da terra de onde eu vim eu sei estórias e histórias, na verdade tudo é bem misturadinho feito um rubacão, o que já me dá um sabor de delícia nordestina.
Minha casa sempre teve os decibéis bem mais altos que a casa dos meus amigos, e não é só com a música, não. O falatório quando começa é uma disputa pra se fazer ouvir.
Um dia meu pai chegou em casa com uma vitrola gigante (literalmente), era um móvel de madeira que tinha que ser aberto para colocar o vinil dentro, primeiro a gente ouvia uma chiadeira depois seguia sempre um Luiz Gonzaga, um Genival Lacerda, e as risadas do meu pai, o café da minha mãe, e a gritaria de uma infância cheia de sonhos.
A casa tinha dois cômodos. Uma cozinha-sala e um quarto com a beliche, uma cama de casal e o guarda-roupas. Não era grande, mas recebíamos visita de vez em quando, lembro de um tio meu chegando de chapéu e com uma mala cheia de coisas gostosas que ele trazia de Serra Talhada, tinha manteiga de garrafa, mel, queijo, tudo feito na casa dele, e eu achava que ele era dono de algum lugar bem grande, imagina, ele tinha uma casa no sítio, devia ser de tapera, mas sempre trazia as riquezas que tirava de lá.
Eu achava engraçado esse tio Antônio. Ele acordava de madrugada e fumava um cigarro que ele também comia, e depois cuspia no canto do chão (disso eu tinha asco). Ele cheirava a tabaco, é um cheiro bom que eu trago comigo.
Houve uma época de vacas muito magras em casa, lembro do meu pai fazendo nossa refeição que constava de: água, sal, e algumas cebolas que ele cortava e deixava cozinhar um pouco. Se meus olhos lembram desse tempo, querem logo desaguar, porque não há cebola no mundo que me cause mais lágrimas, que estas cebolas da minha infância.
Hoje eu lembrei de uma música com minha mãe, acho que era Genival Lacerda quem cantava, eu adorava cantar isso quando era pequena, a música é “A veia debaixo da cama”, pra mim é como uma cantiga de criança, porque eu cantava com minha irmã nas brincadeiras.
Por todas estas coisas e muitas outras, eu me tornei quem eu sou. O mundo pode ter o tamanho de um quintal para uma criança que, carrega dentro de si depois de grande todos os quintais do mundo.
Onde quer que eu vá, eu levo comigo minha parentada nordestina, o cheiro da terra de onde eu vim, levo as pastilhas do Véi Lixandre, uma cabra que corre num grande cômodo de sitio, levo ainda Genival, Gonzaga, manteiga de garrafa, meu pai e mãe, e uma enorme vontade de que tudo isso continue vivo em mim.
Um lindo dia dos pais a todos, e um grande chêro!

Xica Lima
14/08/2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A cidade arde.
Esse monte de luzinhas acesas... Todos dormem?!
No trem as pessoas não se encontram
elas mal olham pros outros apressados
estão no piloto automático.
Eu tenho febre.
A vida me queima
estou a beira de todos os descobrimentos
eu sei...

Xica lima
13/02/2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Saindo do trabalho, um calor de rachar, levanto um braço e vejo se meu desodorante venceu, ufa, graças ao santo desodorante protetor das axilas desamparadas não venceu, posso andar nas ruas sem medo de ser confundida com um cão molhado.
No ônibus entra um bonitão, barba, óculos escuros, magro, ai que delícia. Fico pensando em coisas que a gente quer mas não diz por educação (que merda).
Ele levantou, foi até a metade do ônibus onde no centro do teto tem uma abertura para ventilação, empurrou, fez força, ai... abriu. Entrou um ventinho safado, que bom que existem esses braços tão fortes, me lembrei da história da chapeuzinho vermelho e pensei: "...e essa boca tão grande..."
Quando ele voltou para o banco, pronto!
Parabéns! Provavelmente todas as mulheres do ônibus estão olhando pra você e suspirando, e uma ou outra deve estar nesse momento com sua respectiva calcinha úmida...
Procuro um papel na bolsa, quase desesperada porque preciso escrever sobre isso que presenciei, não tem nada nessa bolsa, uma bagunça, achei um papel de propaganda de Kit Festa, ótimo, serve, escrevo no verso.
Na frente do papel tem bolo, docinhos, salgadinhos, e no verso delícias do calor.
Agora sim. Estou chegando no metrô, e lá se vai o cremosão, tive ganas de entregar o papel pra ele ler, o que será que ele diria... não sei.
Como disse Vinicius: "A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros".

Xica Lima
05/01/2011