"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

terça-feira, 5 de junho de 2007

Inicio... reinicio... sempre...

O inverno chega de um sopro...
Hoje o frio toma conta do mundo, e este, parece tão triste... Chove fina e delicadamente, como se assim, se aliviasse a tristeza deste dia, ou se pudesse transformar a tristeza, num silêncio de se viver quieto...
Aqueço a chaleira, respiro um ar de vapor, borbulha então um chá de flores, carinhos que resolvi me fazer, talvez minha cria me acompanhe neste ritual de aquecer a vida, talvez apareçam visitas amigas, e bolinhos de chuva? Em dia de chuva? Delicia!
Minha solidão se aquece, ouço uma música, minha alma de borboleta alegra-se em festejar, Djavan, "esse imenso, desmedido amor...", releio livros para me distrair do amor que dói em mim, por não ser recebido como eu achei que deveria.
Em minha auto-análise me questiono se eu realmente sou merecedora do amor de alguém, na verdade às vezes eu acho que me idolatro, por achar que o ser amado tem que devolver o que sinto em dobro, e se puder em triplo, mas este ser não pode, ou não quer, ou simplesmente eu não sou tão especial quanto acredito ser... Talvez eu seja medíocre, e na minha mediocridade, eu tenha acreditado ser grande... E talvez eu tenha sido estúpida em ter acreditado assim...
Seja como for, cá está o chá que vou sorver, silenciosa, comigo mesma, (e eu gosto de mim.) , a música povoando meu lar, e o cheiro deste chá incendiando meu nariz, uma canção povoada de saudades, um cheiro roubado de algum jardim, lembranças de como ser, e pensamentos povoando a mesa, o chão... Eu espalho na casa minhas dúvidas, e vou eliminando uma a uma, até nada restar, então saio de casa, no meio da noite, e no sereno gélido retiro de mim outra borboleta, uma que não se sabe de onde veio, mas que me alegra... Olho em volta e o mundo se faz escuro, frio e silencioso, apenas eu no meio do nada, revirando minhas expectativas, e decidindo quais aquelas sobreviverão à nova borboleta...
A vida é uma eterna transformação pra mim, e minhas metamorfoses vêm de sopetão... Como o inverno...
Toda estação é assim, um trem que chega, outro que vai, pessoas vindo, indo, inverno, verão, outono... Eu sou primavera nesta madrugada, e no meio do asfalto gelado, floresço... Contrária, colorida, com minhas asas, cheiros, meus chás, e o som das melodias do Brasil...
O inverno chega de um sopro
Eu me viro, reviro, e chego de novo... Re-no-va-da...
É diferente, estranho, assustador, mas é assim que eu recomeço.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

14º dia... meu amor...

Voar tem sido meu melhor remédio... Deixei teus olhos em algum jardim, perdidos na admiração do mundo, um mundo em que não se pode caminhar sozinho... Como foi que aprendi a ser só, eu não sei. Tenho voado em busca de outras formas, outros gostos, mas eu sei que mesmo mudando tudo de vez em quando, eu continuo buscando teus olhos que deixei... Não me é fácil dizer, sinto-me morrer de saudades, e recolho-me na dor da ausência do teu riso... Uma morte lenta, morna, silenciosa, que me pega pra dizer da minha insignificância, e quer me ensinar a ser humilde... Deve haver alguma humildade em morrer assim, a humildade de doar tudo que se é em nome de outrem, e não esperar flores... As flores devem-se dar no auge de toda vida, quando o amor é doce, quando há abraço e pés que se cruzam na cama, no chão, no silencio de um dia de chuva... Flores devem ser presentes de alegria, devem colorir vasos, devem enfeitar cabelos, devem carregar o significado de um querer bem... Se eu morrer hoje, não quero flores, nem lágrimas, na verdade eu gostaria que ninguém estivesse só, queria que as pessoas aprendessem a compartilhar mais, a amar mais, sem tanto medo de se doar, porque o tempo passa voando por nós e quando nos damos conta, algumas coisas perdem-se no caminho até aqui... Se eu morrer hoje, quero todos de mãos dadas, talvez uma prece em nome do AMOR, que este sim consegue descrever minha trajetória...
Então sigo voando, perdendo minhas asinhas em nome dos olhos do ser amado, voando pra fazer sombra, espalhar pólen, e recriar um mundo em que tudo é transformação. Quero enfeitar a vida das pessoas com alegria, abraços, música, solidariedade, amizade, amor... Devo ter sido concebida sob o signo da ternura dos que amam muito e profundamente... Talvez renasça através do amor de outro ser, talvez alguém ou algo me salve de ser só, e eu sobreviva à lembrança do amor que se foi, e talvez eu possa fazer do meu corpo a casa de outro ser, em nome da transformação do amor de Deus.
No momento traço um vôo solitário, beijo no orvalho da manhã a terra que me recebe, e recebo a graça de ser apenas o que sou...

13º dia voando leve...

Um voar no vácuo, e plaino feito asa delta... Sem a preocupação de ir pra qualquer lugar, apenas estar assim... Leve.
Receber de Deus essa brisa, presente tão doce quando nada mais te parece acarinhar...
Quais os símbolos que me movem neste momento, se nem o dinheiro nem o amor estão aqui, apenas eu e a brisa, num colóquio amoroso e simples.
Quero deitar na grama ao lado de uma cachoeira, e ficar horas ouvindo o som da água caindo, buscar refúgio neste som e com ele criar uma música, notas que vão partindo-se como querendo partir meu pequeno coração de borboleta... Um arco-íris deve surgir, pra colorir de vida a música única que eu criar, e deve haver um riso de criança, para que a música carregue com ela a pureza e a alegria da infância...
Deus, deixe-me ser tudo que posso. Deixe-me voar em busca dos meus símbolos perdidos, deixe-me quedar exausta da alegria que é o amor. Permita que eu crie mais, que eu ame mais, que eu agradeça mais. Deixa-me gritar vez ou outra um palavrão, que de raiva e impulso também se tira alguma sabedoria. Me deixa ferir com agulha fina e lacera meus órgãos pecadores, que minha alma, esta não se corrompe. Dá-me Deus a sublime sabedoria dos que lastimam menos, e amam mais. E a música que eu criar, de cachoeira, arco-íris e criança, terá ainda a força e o calor dos que vivem tudo, da dor ao amor, e meu vôo e meu descanso ganharão um signo novo, com jeito de terra e alma de anjo...

12º dia... frioooo

Vou voar mais cedo hoje...
Tenho reinventado meus caminhos, tenho revisitado meus amigos, antigos amores, recentes amores, ah! Meus amores...
Há poucos dias foi uma festa!
Eu borboleta festejando meu aniversario... Como uma grande criança, brincando de ser feliz.
Um calor novo tomou conta de mim, não sei amar menos, e sigo apaixonada...
Minha nova idade não faz de mim alguém mais inteligente, ou mais esperta, na verdade me sinto amedrontada e só, sem conseguir voar em busca do que preciso, e sem poder alcançar o que quero...
Passadas tantas mudanças, o tempo ou o mundo, ou sei lá quem, quer me mostrar o quão frágil eu posso ser em determinados momentos...
De repente perde-se a guerreira, santa Joana D’Arc., e surge em mim meu casulo, acho que eu sai do casulo, mas ele não saiu de mim... E pra onde fugir, e será que devo fugir?
Hoje vou voar mais cedo, procurar novos horizontes, tentar me encontrar em algo.
Quero estar totalmente livre!
Quero mudar de rumo quando me der vontade, colorir meus cabelos, rasgar umas roupas, como forma de ser eu, simplesmente.
Eu acho tudo muito simples. Beijar, amar totalmente, não se regular, não regular carinho... a espada está sempre lá, e estou sempre me ferindo... a vida tem esse gosto, de sangue e amor... Vou-me dessangrando, fazendo de mim esta que eu sou...
Hoje vou voar mais cedo. E curar essa solidão que acordou comigo. Tenho medo de ser só, mas não tenho medo da vida, e do que ela me oferece. Abraço essa oferta e me sinto extremamente grata.
Bato minhas asas coloridas, e desejo muito que essa dor passe, estou voando pra esquecer, ou passar...

11º dia...

Onde eu encerro meu esforço de voar?!
Sinto-me hoje como há muito tempo não sentia, sóbria, lúcida, acordada...
Andei tropeçando em alguns dos meus sonhos, minha realidade me feriu diversas vezes. O meu espírito (eu me lembro) quando criança, já era um pensador. Eu passava horas à espreita do mundo. Lembro que acordava cedo para ir à escola, e nascia atrás da minha casa um sol gigante e amarelo, e eu já era neste tempo uma admiradora da beleza do encontro com a manhã. Ficava ali sentada, olhando o sol, às vezes eu fechava os olhos e sentia o calor me abraçando... E me entregava a mágica da renovação.
Hoje ainda sinto o mesmo, como se o sol estivesse me acompanhando, aonde vou. Gosto dos entardeceres, mas os amanheceres têm um gosto de vida pra mim, fico estática se há um sol nascendo...
Quando era criança lembro-me de sair pela rua sempre cantando alguma música, gostava de ler, houve um tempo em que a poesia apossou-se de mim, e desde então eu sou esta.
Sei que tropecei em muito do meu caminho. Mas mesmo que tivesse o poder de mudar algo, não mudaria. Aprendi que muitos dos meus erros se deram devido a minha ingenuidade, e olhando hoje para mim, reconheço que ainda trago a pureza da menina que acordava pra ver o sol nascer.
Eu sou uma romântica, sonhadora, apaixonada pela vida, pelas pessoas.
Mas também sou uma guerreira, uma da raça dos fortes, e com a mesma paixão com que me entrego aos meus amores e sonhos, me entrego à luta. E se o caminho não se compadece de mim eu o desafio, e sigo fortalecida pela certeza de que não existem impossíveis.
Onde eu encerro meu esforço de voar?!
Acho que não encerro... Sigo sempre numa busca quase insana de reconhecer os signos do meu amor, ou dos meus ideais... E a menina que um dia eu fui, segue comigo, não me deixando esquecer do sol, nem da música, nem do que é suave...
Gostaria de abrir os braços agora e tocar (mesmo que de leve), a candura e o calor do homem amado... Mesmo que ele não saiba, mesmo que isso seja tolo, mesmo que pra isso, eu perdesse minhas asas... O valor do que se ganha, supera a dor do que se perde...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

10º dia...

Ainda que a dor me assalte, ainda que a perda de um grande afeto ou amor me cumule de tristezas... Meu corpo contraído, convulsionando partidas, ainda assim, buscarei minhas raízes, sobreviverei quase altiva, cavarei com minhas mãos alguma esperança, em algum lugar enterraram-se minhas verdades, meus ideais....
Ainda que o mundo diga o contrário, o meu universo vai caminhar para minha realização, meus esforços serão os de ser melhor, mais sábia, menos insegura ou rabugenta...
Ainda que o vazio no estômago me diga saudades, eu selarei comigo mesma um pacto de vida, e mesmo em cólicas não deixarei que os dias passem sem minha presença, eu sou única, especial, quando vim ao mundo eu vim só, e é só que partirei daqui. Ninguém há de possuir minha essência, e eu não desejo possuir a ninguém. O amor faz suas próprias escolhas, e foge de mim o controle dessa emoção primária e universal... Então sigo amando, quebrando meus ossos vez ou outra, parindo a mim mesma sempre que meus joelhos teimam em alcançar o chão em quedas suaves ou grotescas...
Ainda que eu não encontre o ser amado, esperado, seguirei inteira, viva, minha identidade renovada como uma fênix, lágrimas que curam minhas próprias feridas, e asas que nunca deixarão de voar, em busca do NOVO que nos assalta!
Eu quero lonjuras...
Grandezas...
E eu quero muito ser feliz, que eu mereço!