"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Saindo do trabalho, um calor de rachar, levanto um braço e vejo se meu desodorante venceu, ufa, graças ao santo desodorante protetor das axilas desamparadas não venceu, posso andar nas ruas sem medo de ser confundida com um cão molhado.
No ônibus entra um bonitão, barba, óculos escuros, magro, ai que delícia. Fico pensando em coisas que a gente quer mas não diz por educação (que merda).
Ele levantou, foi até a metade do ônibus onde no centro do teto tem uma abertura para ventilação, empurrou, fez força, ai... abriu. Entrou um ventinho safado, que bom que existem esses braços tão fortes, me lembrei da história da chapeuzinho vermelho e pensei: "...e essa boca tão grande..."
Quando ele voltou para o banco, pronto!
Parabéns! Provavelmente todas as mulheres do ônibus estão olhando pra você e suspirando, e uma ou outra deve estar nesse momento com sua respectiva calcinha úmida...
Procuro um papel na bolsa, quase desesperada porque preciso escrever sobre isso que presenciei, não tem nada nessa bolsa, uma bagunça, achei um papel de propaganda de Kit Festa, ótimo, serve, escrevo no verso.
Na frente do papel tem bolo, docinhos, salgadinhos, e no verso delícias do calor.
Agora sim. Estou chegando no metrô, e lá se vai o cremosão, tive ganas de entregar o papel pra ele ler, o que será que ele diria... não sei.
Como disse Vinicius: "A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros".

Xica Lima
05/01/2011