"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Um barulhinho na janela é o sol, me acordando com abraços.
Me sinto zonza, o dia é novo como a minha vida agora... Faço silêncio, escuto, olho ao redor, hoje eu deixo pra trás esta casa, deixo de viver fechada e vou ser livre!
Abro os olhos lentamente, para acostumar-me a nova condição. Minhas asas doem, e eu que nem sabia que as tinha... Sinto-me invadida pelo desejo de voar, não mais rastejar entre estas paredes, mas voar... Tomar posse dos meus sonhos, me alimentar do pólen das flores. Eu não conhecia esse desejo, e só agora me dou conta de que preciso tanto ser livre...
Num rasante me sinto de novo enjoada, a cabeça gira como num carrossel veloz, estou doida. Não. Eu estou sendo eu mesma, e encostada na cama sorrio da minha falta de experiência em ser eu. Arrumo as coisas que estavam soltas pelo chão, vou sei lá pra onde, ser feliz aos pouquinhos, porque tudo é novo pra mim. Levo as lembranças do meu casulo, as tardes em que servi chá para algumas amigas, as conversas mudas segredando mistérios de cada uma, a cumplicidade que só o amor é capaz de oferecer. Levo ainda, o cheiro das crianças recém nascidas, um barulho de risos, beijos de pai e mãe.
Eu me sentia bem quando era lagarta, pra lá e pra cá com meus afazeres, achei que era suficiente, não correr o risco, ser boa o bastante e nunca ser má. Ai! Mas eu quis ser má uma vez apenas, quis gritar um palavrão, quis quebrar uns pratos e dizer que eu não era aquela, eu quis muito ser feliz como eu achava que podia, e talvez esse tenha sido o primeiro passo da minha metamorfose: O DESEJO DE MUDAR.