"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito."
Manoel de Barros

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Houve uma explosão.
Estilhaços voaram para todos os lados, algumas mulheres cobriram os rostos, tentando evitar o horror da cena, depois um silêncio de eternidade, e a vaga sensação de paz...
Não havia mais corpo.
Só retalhos, sangue coagulando silêncio.
O coração que durante muitos anos fora acusado de amar demais, finalmente adormecera em mil pedaços, ela tinha espalhado no ar toda tormenta e todo amor de que fora mensageira.
Sapatos; ai que bom, não precisaria mais deles.
Uma criança brincou com os restos da sua roupa colorida e a mãe puxou-a pelo braço aos gritos:
- Num mexe nisso não que dá azar!
Será?!
Roupa colorida, coloridos cabelos.
Uma vida em que ela insistiu em ser de arco-íris.
De repente aquele dia cinza, uma dor maior do que seu pequeno ser suportara... decidiu que era o último dia cinza.
Aí a explosão, choro convulsivo, paz dos dias cinzentos... ela tão colorida, agora só cinzas.
Não queria o terror, mas gostou do som, do vermelho, e da força com que destemida deixava enfim o palco.
Façamos silêncio.

Xica Lima
02/01/2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário