Todos
achavam Maria uma mulher incrível, linda, sempre sorrindo. Funcionária pública há
alguns anos, diga-se de passagem, bons anos. Uma filha, dois netos, um namorado
que ela via todos os finais de semana há mais de dois anos. Quando Maria
atravessava a rua as coisas flutuavam ao seu redor. O tempo parava para
assistir a altivez daquela que era como muitos diziam: uma mulher forte,
guerreira.
Dentro
dela todas as perguntas do mundo. Nenhuma resposta. Ela sorria porque já tinha
percebido que era mais bonita assim. Quando acordava Maria se organizava diante
do espelho: olhos, boca e cabelo... as
vezes ela se cansava, só as vezes.
Houve
um dia em que Maria chorou torrencialmente ao chegar em casa. Sozinha, ninguém
soube. A vida era enormemente pesada em alguns dias. Algumas pessoas doíam-lhe
a alma, mas ela sorria, a piedade ou a comiseração não lhe fariam melhor.
Maria
sempre levava consigo uma garrafinha de água, dessas pintadas e que mantêm a
água geladinha. Seu refresco tinha uma mistura de vodca e água. Ninguém sabia. Esse
era seu delito favorito. Ela tinha outros. Quando via as mães indo a escola com
seus filhos ela parava na calçada em frente para ver se alguém chorava, era
como uma catarse observar as mulheres sem saber o que fazer diante do desespero
infantil. Silenciosamente ela desejava que elas também sorrissem.
Quando
a noite Maria se deitava, ela imaginava que seu chefe imediato amanheceria sem
voz, e que por infelicidade não conseguiria gritar ou menosprezar os
funcionários naquele dia, nem tomar um táxi, nem dizer o que sentia o infeliz.
Mas
ela não era má, era apenas Maria. Nunca foi santa, nem impura, sempre havia
sido apenas ela. Com o tempo as pessoas foram dando-lhe um status que não lhe
cabia, mas ela apenas sorriu.
Maria
era realmente uma mulher incrível. No meio de todas as suas solidões ela achava
a graça das coisas. Era no quintal de casa que ela vivia profundamente o seu
ócio estético precioso. Cuidava do jardim, plantava coisas, em dias de sol
tirava toda a roupa e deitava no meio dos cachorros e das plantas, e ficava
assim, sentindo o abraço do tudo que se manifestava no calor que emanava do seu
corpo. Ela era a própria divindade no jardim, e sorria.
Maria.
Xicâ
G Lima
10/12/2018
Ahhh que linda!!!
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